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DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: EDUCAR AQUELES QUE AS NÃO TÊM

De acordo com vários especialistas, o termo dificuldades de aprendizagem (learning disabilities) serve para descrever uma desordem de origem neurobiológica que tem como fundamento uma estrutura ou um funcionamento cerebral diferentes. Esta desordem afecta a forma como a criança processa a informação, resultando em problemas quanto à sua capacidade de falar, escutar, ler, escrever, raciocinar, organizar e rechamar informação ou de fazer cálculos matemáticos. Esta multiplicidade de problemas não significa que uma criança os apresente todos. Assim sendo, cada caso é um caso cujas características específicas (por exemplo, problemas graves centrados na área da leitura, ou na da leitura e escrita, ou na da matemática, ou em aptidões sociais) determinam o tipo de desordem (dislexia, disgrafia, discalculia, dificuldades de aprendizagem não-verbais, entre outras). Este facto, amplamente apoiado pela investigação e retratado na literatura mais recente, fez com que se começasse a usar o termo dificuldades de aprendizagem específicas em vez de dificuldades de aprendizagem, embora, claro está, a problemática seja a mesma.

As dificuldades de aprendizagem específicas são uma desordem de carácter permanente, vitalícia portanto, que, segundo o “National Institute of Health” Americano, afecta cerca de 15% das crianças e adolescentes americanos em idade escolar. Na sua forma mais severa (cerca de 5% da população estudantil), quanto mais cedo se efectuar a identificação e a avaliação destes alunos (nestes casos a avaliação deve ser muito mais completa, compreensiva, dado que há a necessidade de se elaborarem programações educativas individualizadas/PEI), maior oportunidade terão de se tornarem adultos bem sucedidos e produtivos, uma vez que eles possuem um quociente de inteligência na média ou acima da média.

No entanto, no que toca ao nosso país, para além de não haver qualquer estudo de prevalência que diga respeito a esta população, também a legislação não tem contemplado esta categoria e, por conseguinte, os alunos que apresentam DAE são, na sua maioria, totalmente ignorados e, consequentemente, entregues a um insucesso escolar tal que pode levar (e leva) a níveis assustadores de absentismo e de abandono escolar. E se apenas considerarmos uma prevalência de 5%, isto significará que, possivelmente, todos os anos, haverá cerca de 65 000 alunos com DAE negligenciados pelo sistema educativo, uma vez que não têm direito a serviços que se enquadrem no âmbito da educação especial. Ao negligenciar estes alunos, que todos os dias navegam nas correntes do insucesso, o sistema educativo está constantemente a dar passos em falso cujas consequências lhes são particularmente desastrosas. Mais tarde, vemos muitos deles a engrossar as alas da delinquência, da tóxico-dependência, do desemprego, enfim, sem qualquer esperança numa vida que, se a soubéssemos ter preenchido quando devíamos, poderia ter levado um rumo bem diferente.

Com uma situação tão perniciosa a pairar sobre os alunos com DAE, não me parece despiciendo finalizar este pequeno apontamento dizendo que, ao falarmos de Dificuldades de Aprendizagem Específicas, o grande desafio que se nos coloca é educar aqueles que as não têm.

LMC